Ñato Garcia se fez louco na Austrália.
Entardecia e ele estava olhando o mesmo
sol que apagava em Melbourne
enquanto se ascendia em Montevidéu,
e decidiu ficar louco.
Teve delírios e alucinações. Lutou contra os inimigos invisíveis,
lançando murros no ar, e passou dias e noites
sentado contra uma parede, sem fechar os olhos.
Negou-se a falar, porque o diabo da loucura
entrava por sua boca aberta.
Negou-se a dormir, com pânico de morrer
da loucura da noite. Aguentou pílulas,
injeções, choques elétricos. E finalmente, depois
de quatro anos de Ñato se proibir qualquer normalidade,
os médicos se australianos se convenceram de que
ele era um caso incurável.
E assim Ñato se conseguiu uma passagem de volta,
e conseguiu uma boa aposentadoria para viver sem trabalhar
o resto da vida. Pela última vez se olhou
no espelho de sua casa em Melbourne,
desse adeus ao louco e entrou no avião.
e chegou a cidade de suas saudades.
Em Montevidéu, procurou. Procurou a casa da infância,
e havia um supermercado.
No terreno baldio onde havia feito amor
pela primeira vaz, encontrou um estacionamento.
Procurou seu amigos. Já não estavam.
Procurou e se procurou, e em nenhum lugar se encontrou,
e então mergulhou na dúvida:
__Quem terá ficado lá em Melbourne,
o louco ou eu?
Uma vez por ano, e somente uma vez,
Ñato se reconhece no espelho.Chega o carnaval,
com o troar dos tambores, e Ñato se reconhece.
Isso ocorre quando o espelho devolve a ele
sua cara de fantasia: nariz de palhaço,
um sorriso grande pintado sobre os lábios,
a lua entre as sombrancelhas e
as estrelas esparramadas pela cara afora.
LEITORES
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
JANELA SOBRE A CARA
Uma máquina boba?
Uma carta que ignora seu remetente
e se engana de destino?
Uma bala perdida,
que algum deus disparou por engano?
Viemos de um ovo muito menor
que uma cabeça de alfinete,
e habitamos numa pedra que gira
em torno de uma estrela anã e
que contra essa estrela, algum dia,
irá se espatifar.
Mas somos feitos de luz, além
de carbono e oxigênio e merda
e morte e outras coisas, e enfim
estamos aqui desde que a
beleza do universo precisou
de alguém que a visse.
Uma carta que ignora seu remetente
e se engana de destino?
Uma bala perdida,
que algum deus disparou por engano?
Viemos de um ovo muito menor
que uma cabeça de alfinete,
e habitamos numa pedra que gira
em torno de uma estrela anã e
que contra essa estrela, algum dia,
irá se espatifar.
Mas somos feitos de luz, além
de carbono e oxigênio e merda
e morte e outras coisas, e enfim
estamos aqui desde que a
beleza do universo precisou
de alguém que a visse.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
O ASSASSINO
Eu assassinei o amor
e o sangue ainda escorre
pelos meus dedos.
Assassinei a única palavra:
o nome que intitula o falso
sentimento que me conteve
e manteve.
Agora tudo é sem cor
sem peso... meu tato sente
o frio.
Fui o autor desse fúnebre
destino. há ainda esperança
para mim?
__ Asssassino , eu?
__Sim, não há como fugir.
e o sangue ainda escorre
pelos meus dedos.
Assassinei a única palavra:
o nome que intitula o falso
sentimento que me conteve
e manteve.
Agora tudo é sem cor
sem peso... meu tato sente
o frio.
Fui o autor desse fúnebre
destino. há ainda esperança
para mim?
__ Asssassino , eu?
__Sim, não há como fugir.
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