LEITORES

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

JANELA SOBRE AS MÁSCARAS

Ñato Garcia se fez louco na Austrália.
Entardecia e ele estava olhando o mesmo 
sol que apagava em Melbourne
enquanto se ascendia em Montevidéu,
e decidiu ficar louco.
Teve delírios e alucinações. Lutou contra os inimigos invisíveis, 
lançando murros no ar, e passou dias e noites 
sentado contra uma parede, sem fechar os olhos.
Negou-se a falar, porque o diabo da loucura 
entrava por sua boca aberta.
Negou-se a dormir, com pânico de morrer
da loucura da noite. Aguentou pílulas,
injeções, choques elétricos. E finalmente, depois
de quatro anos de Ñato se proibir qualquer normalidade,
os médicos se australianos se convenceram de que
ele era um caso incurável.
E assim Ñato se conseguiu uma passagem de volta,
e conseguiu uma boa aposentadoria para viver sem trabalhar
o resto da vida. Pela última vez se olhou
no espelho de sua casa em Melbourne,
desse adeus ao louco e entrou no avião.
e chegou a cidade de suas saudades.
Em Montevidéu, procurou. Procurou a casa da infância,
e havia um supermercado.
No terreno baldio onde havia feito amor
pela primeira vaz, encontrou um estacionamento.
Procurou seu amigos. Já não estavam.
Procurou e se procurou, e em nenhum lugar se encontrou,
e então mergulhou na dúvida:
  __Quem terá ficado lá em Melbourne,
  o louco ou eu?
Uma vez por ano, e somente uma vez, 
Ñato se reconhece no espelho.Chega o carnaval,
com o troar dos tambores, e Ñato se reconhece.

Isso ocorre quando o espelho devolve a ele
sua cara de fantasia: nariz de palhaço, 
um sorriso grande pintado sobre os lábios,
a lua entre as sombrancelhas e 
as estrelas esparramadas pela cara afora.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

JANELA SOBRE A CARA

Uma máquina boba?
Uma carta que ignora seu remetente
e se engana de destino?

Uma bala perdida,
que algum deus disparou por engano?

Viemos de um ovo muito menor
que uma cabeça de alfinete,
e habitamos numa pedra que gira
em torno de uma estrela anã e
que contra essa estrela, algum dia,
irá se espatifar.










Mas somos feitos de luz, além
de carbono e oxigênio e merda
e morte e outras coisas, e enfim
estamos aqui desde que a
beleza do universo precisou
de alguém que a visse.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O ASSASSINO

Eu assassinei o amor
e o sangue ainda escorre
pelos meus dedos.

 Assassinei a única palavra:
 o nome que intitula o falso 
sentimento que me conteve
e manteve.


Agora tudo é sem cor
sem peso... meu tato sente
o frio.
Fui o autor desse fúnebre
destino. há ainda esperança
para mim?


  __ Asssassino , eu?
 __Sim, não há como fugir.