LEITORES

sábado, 5 de maio de 2012

O BEIJO

Há tanto tempo
esse beijo me persegue
e me prende às amarras
da lembrança inútil
de uma época distante.

Lembro-me daquela noite:
a chuva caía, pura,
o céu estava negro
e o sentimento que nos cercava
era tão intenso
que o sinto até hoje.

O beijo foi um detalhe,
entre tantos outros que marcaram aquela noite,
ela me olhava nos olhos
e eu fazia-lhe um carinho na face.

Fez-se um breve silêncio
e de repente tudo a minha volta
não tinha mais importância,
não sentia mais a chuva que me molhava
nem o frio do vento que soprava....

Nesse momento:

O BEIJO ACONTECIA.

ESTRANHOS SUBURBANOS

Toda monotonia suburbana
se transfere para os corpos dos
estranhos que cruzam essas vielas
fétidas e inóspitas.

Estranhos que veneram uma vida
loucamente impossível e esperam
que um dia aconteça o desabrochar do destino.

Estranhos suburbanos que levam
seus caminhos ocultos na vigília da noite
e durante o dia são como se fossem
meros mortais: espelhos lúcidos e inúteis.

Não sei se são culpados ou cúmplices,
carregam o silêncio opaco e aberto,
levam entre-face cicatrízes invisíveis
e no corpo carregam a usual tatuagem anarquista.

Eles estão além da memória
ausentes da vida e da palavra.
Seres inteligíveis.